Libras, uma língua visual-gestual, ensinada à distância: tem jeito?

Para início de conversa, considero importante compreendermos o significado da palavra Libras. Existem, no mundo, cerca de 140 línguas de sinais, sendo que a Libras – Língua Brasileira de Sinais – é uma forma de comunicação e expressão, com estrutura gramatical própria e completa, que constitui um sistema linguístico, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.

A Libras foi reconhecida como língua legalmente em 2002, promovendo o empoderamento de muitas pessoas surdas no Brasil. Diferentemente das línguas orais-auditivas, como a Língua Portuguesa, por exemplo, a Libras é uma língua de modalidade visual-gestual, em que a comunicação ocorre por meio de sinais realizados pelas mãos e com o corpo. Já em 2005, a Libras se tornou disciplina obrigatória em todos os cursos superiores de licenciatura e de fonoaudiologia, e optativa para os demais cursos de graduação.

Sou professor da disciplina Libras nos cursos (presenciais) de Administração e Ciências Contábeis há mais de três anos. Contudo, devido à pandemia, esses cursos estão sendo ofertados na modalidade à distância. Com essa mudança repentina, recebi um questionamento: tem jeito de ensinar Libras à distância? A resposta é bem simples: sim, tem jeito! Só que forma de mediar o ensino precisa ser bastante dinâmica e diversificada.

É nesse sentido que gostaria de compartilhar algumas das minhas experiências…
Para que os alunos se sintam motivados a aprender por meio de plataformas virtuais, as estratégias didáticas precisaram ser adaptadas. Assim, os alunos têm apresentado resultados muito satisfatórios, que, em parte, são obtidos devido às metodologias adotadas.

As aulas estão sendo ministradas on-line, ao vivo, com, aproximadamente, três horas de duração e, em todas as aulas, os alunos são convidados a ligar a câmera e/ou o microfone. Trabalhamos as questões teóricas e práticas da Libras. A teoria corresponde aos vários aspectos relacionados à Educação de Surdos, como a cultura surda, o ensino do português como segunda língua para surdos, a aquisição de linguagem de crianças surdas, dentre outras, o que acontece através de discussão e debate.

As aulas práticas correspondem ao ensino da língua, que ocorre por meio de dinâmicas, jogos, brincadeiras, conversação e diálogos em Libras. As atividades propostas também tem contribuído muito para promover o ensino e aprendizagem. Uma delas foi a criação de um glossário em Libras. Os alunos produziram vários vídeos curtos em Libras com sinais relacionados ao curso e ao cotidiano, o que permitiu a ampliação do vocabulário dos alunos, pois tinham que consultar o glossário antes de produzir seus vídeos, os quais não podiam ser repetidos.

Outra atividade que contribuiu bastante para o ensino à distância foi o Bingo em Libras. Para sua realização, elaborei as cartelas, que continham imagens diversificadas em vez de números, e, antecipadamente, enviei essas cartelas para cada aluno. No momento da aula, eu sorteava as imagens, que estavam em um envelope, e sinalizava em Libras: se os alunos tivessem aquela imagem sinalizada, deveriam marcar em suas cartelas até completarem uma fileira. Ao final dessa atividade, os alunos relataram que a aula foi muito divertida e, além disso, uma forma descontraída de aprender os sinais e as estruturas gramaticais da Libras.

Em uma de nossas aulas, convidei uma professora surda para realizar uma oficina on-line com os alunos, na qual fiz o papel de intérprete de Libras, quando necessário. Essa foi mais uma atividade em que todos os alunos ligaram suas câmeras e participaram ativamente da aula.

Por fim, gostaria de comentar que, em todas as aulas, os alunos são convidados a ligarem a câmera para que possam aprender os sinais de forma dinâmica, esclarecer as suas dúvidas e contribuir para o aprendizado do colega. O mais importante é compreendermos que ensinar Libras à distância é possível, mas precisamos variar os recursos didáticos e trabalhar com muito amor e empolgação!

Prof. Rodrigo Pinheiro

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